27 de fevereiro de 2008

'Nosso interesse vai para a perigosa fímbria das coisas: O ladrão honesto, o assassino delicado, o ateu supersticioso.'

Robert Browning

25 de fevereiro de 2008

Carpas, Badminton - Antonio Prata

Encontrei essa rua por acaso, me perdendo pelas elegantes alamedas da concessão francesa. Por acaso, entrei num lindo jardim onde celebravam um casamento. Vi uma criança emocionada, apontando os peixes num laguinho, enquanto a mãe dizia alguma coisa. Carpas? Pode ser. Carpas, disse a mãe, e pela primeira vez a garotinha soube que aquela coisa maravilhosa, aqueles gomos de mexerica gigantes que se moviam para todos os lados chamavam-se carpas. Depois entrei numa ruazinha e um casal de uns dezessete anos jogava badminton. Jogavam mal, não conseguiam concatenar três raquetadas, desengonçados e apressados - como talvez seja seu sexo -, mas riam, se divertiam, era feriado, eles se amavam, e daí? No fundo dessa viela vi o tal gato, o tal cano e tive uma súbita noção dos outros. Outros, seis bilhões de outros – sem contar os gatos -, casando-se, aprendendo que o nome disso é carpa, ensinando à filhinha que o nome disso é carpa, jogando badminton na rua porque hoje é feriado, eles estão vivos e se amam e que importa?Na média, acho que o mundo é um lugar legal. Tem gente matando, gente morrendo, gente explorando e gente invejosa fazendo suas maldadezinhas gosmentas, mas as carpas, o badminton, no fim das contas... Não?

24 de fevereiro de 2008

Poema X - Hilda Hilst

Se todas as tuas noites fossem minhas
Eu te daria, a cada dia
Uma pequena caixa de palavras
Coisa que me foi dada, sigilosa
E com a dádiva nas mãos tu poderias
Compor incendiado a tua canção

E fazer de mim mesma, melodia.

Se todos os teus dias fossem meus
Eu te daria, a cada noite
O meu tempo lunar, transfigurado e rubro
E agudo se faria o gozo teu.

Uma lista qualquer de um dia chuvoso

Eu gosto de:

- Filme de máfia /CIA
- Agentes duplos
- Retórica
- Falar palavrão
- Teorias da conspiração
- Jogos de lógica
- Coisa antigas
- Tradições
- Livros em espanhol
- Maré verde

19 de fevereiro de 2008

O conto do sábio chinês - Raul Seixas

Era uma vez um sábio chinês
Que um dia sonhou que era uma borboleta,
Voando nos campos,
Pousando nas flores,
Vivendo assim um lindo sonho.

Até que um dia acordou,
E pro resto da vida uma dúvida lhe acompanhou.

Se ele era um sábio chinês
Que sonhou que era uma borboleta,
Ou se era uma borboleta sonhando que era um sabio chinês.

18 de fevereiro de 2008

Os Três Mal-Amados - João Cabral de Melo Neto

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia "Os Três Mal-Amados", constante do livro "João Cabral de Melo Neto - Obras Completas", Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.

17 de fevereiro de 2008

Não chore meu amor - Natiruts

Quando a terra se fez o chão da vida
E a floresta morada do sagrado
Oceano de fogo congelado
Um pedaço de lua, um pedaço de luz
Na noite preta, as mensagens do sol
As origens da saudade.
As origens da saudade.

14 de fevereiro de 2008

Tive razão - Seu Jorge

O clima é de partida,
Vou dar sequência na minha vida
E de bobeira é que eu não estou
E você sabe como é que é, eu vou
Mas poderei voltar quando você quiser...



E não tem jeito.
.......
Porque eu tive de levantar da cama, ligar o PC, pra procurar a música orgulho zero do Seu Jorge que a Na me mandou um dia, e que se encaixa com a situação.
.........
Mas você crê se quiser...

13 de fevereiro de 2008

Origem do nome. (eu acho)

Eu só ponho bip-bop
No meu samba
Quando Tio Sam tocar o tamborim
Quando ele pegar no pandeiro
E no zabumba
Quando ele aprender
Que o samba não é rumba.

Aí eu vou misturar
Miami com Copacabana
Chicletes eu misturo com banana
E o meu samba vai ficar assim...

Nação, Nação.











Iluminismo
no dubismo
dos zumbis
A Babilônia não está tão longe
Pela quantidade que se consome
O paraíso dessa vez vem logo
Como um lugar sem nome




















Já tenho o que quero pra chegar onde vou.

11 de fevereiro de 2008

A ficha caiu.

E que se foda Donavon Frank-sei-lá-o-quê...! Pra falar a verdade eu NUNCA gostei de Bob Dylan mesmo. E o som da gaita não é tudo isso não. Que se encanta mais com a rede que o mar, certo? Você me fez bem uma época, época que eu ficava triste por não ter em quem pensar no show do Skank. Prático, muito prático, a gente já tinha uma história, bonitinha até. Você me dava trela, eu massageava seu ego e assim o mundo seguia girando. E você ainda fala que é mentirinha? Falo, e falo denovo. Men ti ri nha, amor de mentirinha, tão verdadeiro quanto flores de plástico. Foi pros seus braços abertos que eu corri sempre que olhei ao redor e vi todos de braços cruzados. Mas agora eu parei, sabe por que? Porque acabou o carnaval, esse carnaval de não sei quantos anos e tantos mais quilômetros. E cá estamos, nessa grande quarta-feira de cinzas, encarando a realidade, que eu sempre imagino com dentes e garras. É engraçado eu "imaginar" a realidade...

Definitivamente hora de parar, hora de enxergar as coisas como realmente são. E se até pra Freaud um charuto, às vezes é só um charuto... E se até pra Drummond uma pedra no caminho é só uma pedra no caminho, hoje eu vejo claramente que você, desde hoje, você é só mais um.

E pra finalizar

(...)
E foi por isso, porque você deixou de ser o menino que me amava e passou a ser só mais um que me usa, que você, assim como todos os outros, mereceu um texto meu.
Tati Bernardi, aregaçandooOo.

Hoje é dia de overhimplaylist.

Quem é você pra me chamar aqui, se nada aconteceu? Me diz? Foi só amor? Ou medo de ficar sozinho outra vez? Cadê aquela outra mulher? Você me parecia tão bem! A chuva já passou por aqui, eu mesma que cuidei de secar... Quem foi que te ensinou a rezar? Que santo vai brigar por você? Que povo aprova o que você fez? Devolve aquela minha TV que eu vou de vez! Não há porque chorar por um amor que já morreu deixa pra lá eu vou, adeus... Meu coração já se cansou de falsidade...
Você diz a verdade? A verdade é o seu dom de iludir... Não me vem agora com essas insinuações... dos seus defeitos ou de algum medo normal. Será que você não é nada que eu penso? Também se não for não me faz mal, não me faz mal não. Naquele instante que você partiu destruiu nosso amor. Agora não vou mais chorar, cansei de esperar, de te esperar enfim. E pra começar eu só vou gostar de quem gosta de mim.

9 de fevereiro de 2008

Outro lugar - Milton Nascimento

Cê sabe que as canções são todas feitas pra você, e vivo porque acredito nesse nosso doido amor. Não vê que tá errado, tá errado me querer quando convém? E se eu não estou enganado acho que você me ama também. Amor eu gosto tanto, eu amo, amo tanto o seu olhar. Andei por esse mundo louco, doido, solto com sede de amar, igual a um beija-flor, que beija flor, de flor em flor eu quis beijar. Por isso não demora que a historia passa e pode me levar.

E eu não quero ir, não posso ir pra lado algum enquanto não voltar. Não quero que isso aqui dentro de mim vá embora e tome outro lugar. Talvez a vida mude e nossa estrada pode se cruzar. Amor, meu grande amor, estou sentindo que esta chegando a hora de dormir...